Fui presenteada com um bom pedaço do delicioso Bolo Rei de Natal, carinho da minha amiga querida e vizinha, Marilanda.
Mas não foi um presente qualquer, foi um super mega presentão, sabe por quê? Ela ganhou este Bolo Rei de Natal de seu neto Alex, que está fazendo mestrado na cidade do Porto, em Portugal e veio para o Natal.
Pode imaginar um moço viajando de avião e trazendo, na mão, um bolo para a avó? Só mesmo um grande amor de neto!
Grande amor e carinho foi também de Marilanda ao me dar um pedaço deste bolo para eu degustar e conhecer a iguaria. Simplesmente amei o gesto carinhoso e o delicioso bolo!
De tão bom, não consegui nem deixar um pedacinho para depois, comi tudinho de uma só vez, bem gulosa né, rsrs.
Fui então perguntar à minha amiga se seria um bolo típico de Portugal e onde havia sido comprado. Descobri uma história familiar linda! Vou contar um pouquinho dela para vocês.
Veja também esta famosa receita portuguesa – Pastel de Nata ou Pastel de Belém, se você for a Belém e comer na fábrica original.
Sumário
Bolo Rei de Natal – uma produção familiar
Lembra do neto da minha amiga? Ele encomendou o Bolo Rei à sua colega de mestrado, produtora rural e confeiteira, Angela Alves.
Angela faz parte de uma família de produtores rurais. Moram em Gondomar, um município próximo à cidade do Porto, às margens do rio Douro.
Sua família, pai: Américo, mãe: Lina, irmão: Jorge e Angela, trabalham juntos, dando continuidade à atividade familiar, na agricultura, criação de animais (porcos e galinhas) e produção de panificação.
Angela faz mestrado em ensino da Geografia, durante a semana e, nos fins de semana retorna à sua residência, para ajudar na produção familiar.
Vamos ver como a família chegou ao Bolo Rei de Natal?
A saga da primeira e segunda geração – em tempos de guerra
Tudo começou com os bisavós de Angela, quando seu avô ainda era criança. Os tempos eram de guerra, havia muita fome e as pessoas tentavam alimentar-se.
Para sobrevivência e consumo próprio, a família começou a trabalhar na agricultura e na criação de gado.
Mais tarde, os avós já com uma condição econômica um pouquinho melhor, compraram uma casa com terreno para cultivar.
Embora seu avô trabalhasse numa fábrica de torra do café, sabia pelo aprendizado da guerra, que precisava garantir uma alternativa de sustento.
Diariamente, após o expediente na fábrica, meu avô trabalhava mais duas horas, cultivando o seu campo e outros campos alugados. Sempre era ajudado pela minha avó e alguns dos seus filhos, como o meu pai, conta Angela.
O avô chegou a ser convidado para torrar café para a SICAL, uma grande empresa da região, mas recusou porque a fábrica era longe. Sabia que assim não ia ter tempo para continuar a trabalhar nos campos.
Os avós paternos de Angela fizeram de tudo um pouco, o negócio está no sangue, diz ela! Comercializaram gado, tiveram uma pequena churrascaria e por fim, foram donos de uma mercearia.
Angela lembra as histórias contadas pelo seu pai e que também viveu um pouco, quando ainda pequena – Vendiámos os produtos da mercearia, também de porta em porta (em Portugal chama-se “voltas pelos lugares da freguesia”).
Chegávamos nos lugares, montávamos barraca e as pessoas iam lá comprar, quase como uma loja ambulante.
Com a morte da minha avó acabamos com “as voltas” e fechamos a mercearia física, instalada em Atães, Gondomar.
A tradição na terceira geração
O meu pai criado no meio rural, sempre cultivou o campo do meu avô. Os moradores dos arredores, pelas festividades como o Natal, iam lá comprar a sua penca, os seus olhos de couve, e os grelos para a ceia de Natal ou de Ano Novo.
Um dia, meu pai teve uma ideia! Pediu-me para vender, em frente da casa dos meus avós (retorno às “voltas pelos lugares da freguesia”), algumas hortaliças.
A clientela começou a crescer e o negócio a expandir, fomos colocando mais produtos hortícolas caseiros e algumas frutas.
Começamos a levar também produtos do mercado abastecedor do Porto, onde minha mãe trabalha, que abastece quase todas as mercearias e lojas do Grande Porto.
Chegamos à quarta geração – Surge o Bolo Rei de Natal
Com o crescimento do negócio e com os ensinamentos do meu pai, que é padeiro desde os 14 anos, eu e o meu irmão decidimos expandir o negócio para os doces e padaria. Nossos produtos, feitos com muito amor e cuidado, são vendidos no Cantinho dos Alves.
Assim, foram surgindo as nossas deliciosas iguarias como o Bolo Rei de Natal, hoje com produção contínua, o Pão de Ló, Tronco de Natal, este ano com a novidade – Regueifa à moda antiga e, diferentes tipos de pães; de batata doce, castanha, fava, alfarroba, e nestes últimos anos, bombons artesanais, entre outros produtos.
A receita do Bolo Rei de Natal produzida pela família Alves
A nossa receita do Bolo Rei de Natal é do meu pai, diz Angela. Ele aprendeu ao longo dos seus anos de prática com os pasteleiros com quem trabalhou. Passada de pai para filho, agora o irmão dá o seu toque à receita original.
Angela conta o segredo de tudo
Posso afirmar que o meu contexto familiar favoreceu bastante o nosso pequeno negócio e a vontade de arriscar, tentando sempre introduzir novos produtos.
As dicas de anos de experiência do meu pai, que ensinou e continua a ensinar, a mim e ao meu irmão, aliado ao talento e criatividade, nos impulsiona a melhorar as receitas antigas, assim como fizemos com o Bolo Rei de Natal .
Por fim, devo afirmar que isto tudo não seria possível sem um grande trabalho de equipe. Eu, o meu irmão e os meus pais, tentamos sempre ajudar-nos uns aos outros.
Esta grande união familiar e amor que temos uns pelos outros passa para os produtos que fazemos e cultivamos, e também para os nossos clientes.
A história e origem do Bolo Rei de Natal
Este bolo é feito de massa levedada e sua receita surgiu na França, sul de Loire. Recebe o nome de Bolo Rei porque costumava-se fazê-lo no formato arredondado e, com vários pedaços grandes de frutas por cima, lembrando uma coroa.
A receita desse bolo chegou a Portugal no século XIX, levada pelo mestre confeiteiro francês Gregoire que adaptou a receita original, típica de Paris. Era vendido na Confeitaria Nacional, em Lisboa, onde Gregorio, trabalhava.
A receita se espalhou pelo país lusitano. Em 1890 chegou à cidade do Porto, comercializado pela Confeitaria Cascais, mas com receita trazida por seu proprietário, diretamente da capital francesa.
Assim, com o tempo, o Bolo Rei de Natal tornou-se famoso, como uma iguaria típica natalina, portuguesa.
Receita Portuguesa, dos Alves – Bolo Rei de Natal
*Esta receita foi cedida gentilmente pela personagem desta história – a estudante de mestrado e artesã Angela Alves
Ingredientes para a massa do Bolo Rei de Natal
- 1kg de farinha de trigo
- 10 ovos
- 150g de açúcar
- 300g de margarina
- 75g de fermento fresco
- 150ml cocktail ( vinho do porto e aguardente)
Ingredientes para o recheio
- fruta picada sortida cristalizada ou em calda – 50% do peso final da massa
- frutos secos – 20% do peso final da massa
- uva passa – 5% do peso final da massa
Para enfeitar
- fruta cristalizada ou em calda (a gosto)
- amêndoa laminada (a gosto)
- açúcar de confeitero (a gosto)
Modo de preparação
- Juntar e mexer todos os ingredientes para a massa até formar liga, entre 20 a 25 minutos. Se for amassado na máquina, utilizar a velocidade lenta para a massa não aquecer demais.
- Deixar a massa repousar cerca de 1 hora. Em seguida, adicionar os ingredientes para o recheio e misturá-los na massa até estarem bem envolvidos.
- Deixar a massa repousar novamente, no mínimo 3 horas.
- Cortar a massa com o peso pretendido e dar a forma desejada. Hoje já é feito em outros formatos que não redondo.
- Pincelar a superfície com ovo. Em seguida enfeitar com as frutas desejadas e deixar levedar cerca de uma hora, entre os 25 graus a 35 graus.
- Levar ao forno, à temperatura de 200 a 220 graus, durante 35 a 45 minutos. Este tempo é para um Bolo Rei de aproximadamente 1Kg. O tempo varia conforme o tamanho do Bolo Rei.
Depois de pronto é só esperar esfriar, se conseguir, rsrs e está prontinho para se deliciar com essa maravilha de bolo. Vai muito bem com chá, café ou de sobremesa após almoço ou jantar.
Harmonização
Com o colorido das frutas cristalizadas é excelente para decorar a mesa de Natal e fazer parte da refeição natalina. Pode ser servido como sobremesa ou harmonizado com o licor de encerramento da refeição.
Versões modificadas do Bolo Rei de Natal
⇒ bolo rei de chocolate
Adiciona na massa, cacau, gotas de chocolate e um creme de chocolate, além dos frutos secos.
⇒ bolo rei escangalhado
Leva creme de ovo e é apenas com frutos secos, não se adiciona as frutas cristalizadas.
Conclusão
Amei conhecer a história de muito luta, trabalho e dedicação de quatro gerações de produtores agrícolas. Impressionante a lição que a guerra ensinou à Família Alves, que aprendeu na pele que – é preciso sempre ter um plano B.
Este ano de 2020 fomos testemunhas de como a vida e o sustento das pessoas foi impactado pela pandemia do COVID-19, com perdas de seus empregos.
É interessante constatar como as competências antigas, neste caso, o plantio, a comercialização e a receita do Bolo Rei de Natal, passadas de geração a geração, podem sustentar famílias por anos.
Aprendo com essa história de vida da Família Alves, que quanto mais se puder aprender, melhor. Que tudo se soma na vida, podendo muito mais tarde, um saber e uma tradição familia contribuir pela riqueza e sobrevivência.
Aprendo ainda, que o amor, a união, o compartilhamento da família é fundamental para a sobrevivência física e emocional.
Que neste dia, véspera de Natal, resgatemos o maior exemplo de amor – Deus enviar seu único filho, Jesus Cristo, ao mundo por mim e por você! Sigamos seus ensinamentos de PAI. VejaLucas 2:10 e 11
Vale destacar que o Bolo Rei costumava ser produzido só no Natal, mas por ser tão saboroso, as pessoas passaram a procurar por ele durante todo o ano.
Hoje, o Cantinho DOS ALVES oferece o Bolo Rei de Natal, durante todo o ano. Produzem unidades de 5 kg e vendem em porções, conforme o desejo do cliente.
Se for ao Porto, não deixe de encomendar da Angela!
Contatos para a compra do melhor Bolo Rei de Natal, na cidade do Porto
Facebook – Cantinho DOS ALVES
Instagram – @angelampalves
Email – j.flaviopassos@gmail.com; angelaalves@live.com.pt
Telefone:+351 939 994 696
Agradecimento
Preciso agradecer a super legal ideia de minha amiga Márcia, filha de Marilanda e mãe do Alex, que ficou tão entusiasmada com o Bolo Rei de Natal que deu a ideia de divulgarmos aqui a receita.
Claro, preciso também agradecer à Angela e sua família, por compartilhar conosco sua história e receita da família, muito obrigada!
Só provando este famoso Bolo Rei de Natal é que seu sentido do paladar lhe contará como é deliciosa essa iguaria.
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Deixe seu comentário aqui ao final deste post, conta para gente o que achou deste artigo e se já conhece o Bolo Rei de Natal.
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É muito interessante as viagens e relatos, gosto de montão e aprendo também, obrigada por esta oportunidade
Que delícia receber seu comentário aqui, fico muito feliz que gosta de nossas matérias e viaja comigo. Saber disso nos motiva a sempre ir em frente!!!
Grande abraço
Sylvia Yano
Parabéns pela divulgação desta maravilhosa receita e desta inspiradora história de vida feita de muita luta, sacrifício,carinho e paixão,de trabalho, perseverança,amor e dedicação. Um grande bem haja e votos de muito sucesso para si e toda a sua família.
Olá Jaime, muito obrigada pelo seu comentário. Histórias de amor e dedicação são o que nos inspiram neste mundo, não é! Agradeço de coração por seus votos carinhosos e lhe desejo muita paz, alegria e sucesso. Aparece sempre por aqui para ver nossas novidades.
Amo quando recebo comentários, obrigada
Sylvia Yano
Muito bem contada essa inspiradora história!
Olá Maria Aparecida, muito obrigada pelo seu comentário. Fico feliz que tenha gostado da história e de como foi contada.
Receba o meu abraço e sempre que puder, passa por aqui, para ver as novidades.
Sylvia Yano
Esse post é só emoção ! Que linda a história dessa família que preserva a união, valoriza seus antepassados, trabalha junto . Que lindo o gesto da sua vizinha de compartilhar um presente que ganhou . Que linda a sua sensibilidade de valorizar toda essa história e compartilhar conosco. Esse post vale por mil e seria maravilhoso que o Google o levasse a muitos e muitos leitores. Parabéns, Sylvinha pelo seu lindo trabalho. beijocas
Obrigada minha amiga, suas palavras me alegram muito. Sim esta história toda é um conjunto de amor e afetividade, solidariedade e compartilhamento. Tudo que nossa sociedade precisa.
Grande abraço.
Sylvia Yano
Muito interessante essa matéria! Fiquei com vontade de comer um pedaço desse bolo! Já vai entrar no meu “bucket list”.
Oi Leila, obrigada por ler nosso artigo e comentar. É muito interessante mesmo conhecer práticas que se tornam histórias, tradições e seguem gerações. Na minha família são os sequilhos criados por minha mãe. Eu tive a oportunidade de provar o Bolo Rei e simplesmente é uma delícia! Ainda não me aventurei a preparar, mas ainda vou! Não sei se vende nos EUA ou outros países além de Portugal, mas vale procurar.
Grande abraço e super Natal pra você e sua linda família! Beijos
Sylvia Yano